Relação da espécie com a anta (Tapirus terrestris) acabou lhe dando nome, que é o mesmo de uma cachoeira na Serra da Canastra. Planta ocorre do Rio Grande do Sul à Bahia.
Por Giovanna Adelle, Terra da Gente
Legenda: Casca d’Anta (Drimys brasiliensis) possui flores reunidas em inflorescências — Foto: Pedro Cavalcante / iNaturalist
Localizada no Parque Nacional Serra da Canastra, a 320 km da capital mineira, a cachoeira Casca d’Anta é a maior queda do Rio São Francisco, atingindo 186 metros de altura.
Nessa região, ocorre uma árvore com mesmo nome popular da cachoeira: a casca d’anta (Drimys brasiliensis). De acordo com a bióloga Carolina Ferreira, doutora em Botânica pela USP Ribeirão Preto, a árvore recebe esse nome por conta de um fato curioso.
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“Ela foi batizada assim pelo fato de que as antas (Tapirus terrestris) além de se esfregarem no tronco, podem por vezes mordê-lo, por conta das propriedades medicinais presentes na casca da árvore. Relatos em artigos e sites mostram que elas fazem isso para aliviar cólicas e diarreias e também para curar ferimentos superficiais”, explica a especialista.
O hábito de se esfregar na árvore provavelmente ocorre quando as antas apresentam ferimentos na pele, segundo Carolina. Nesse caso, as propriedades medicinais da casca agiriam como um “antisséptico natural”.
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Ainda segundo ela, o gênero Drimys pertence à família Winteraceae, que compreende cerca de 8 gêneros e 70 espécies. Esse gênero de árvores ocorre predominantemente no Hemisfério Sul, desde a Australásia até Madagascar e Américas.
No Brasil ocorrem três espécies: Drimys angustifolia Miers, Drimys brasiliensis Miers e Drimys roraimensis (A.C. Sm.) Ehrend. & Gottsb.
Árvore casca d’anta
Ocorrendo do Rio Grande do Sul à Bahia, a Drimys brasiliensis é uma espécie arbórea, cuja altura pode chegar aos 27 metros e o diâmetro do tronco aos 50 centímetros.
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“A espécie pode ser encontrada nos Estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com maior predomínio na formação Floresta Ombrófila Mista. É uma espécie encontrada em ambientes florestais, sendo que se desenvolve melhor em ambientes sombreados ou de luz difusa”, diz a botânica.
Carolina explica que as folhas apresentam face superior verde-escura, bem lustrosa e brilhante, e a face inferior cinza clara, até prateada. As flores são brancas e reunidas em inflorescências, sendo que cada inflorescência contem de três a cinco flores, algumas vezes até seis.
Já os frutos são classificados como sendo múltiplos, livres, constituídos por cinco frutíolos (sendo cada frutíolo denominado de baga), e as sementes são pretas e brilhantes.
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Em relação à interação com outras espécies, segundo a especialista, a casca d’anta é polinizada por pequenos besouros, trips (inseto da família Thripidae), mariposas e moscas. Além dos registros de interação do vegetal com a anta, o maior mamífero brasileiro.
A espécie é considerada vulnerável, segundo a lista oficial da flora ameaçada de extinção do Rio Grande do Sul.
Outras curiosidades sobre a planta
A Drimys brasiliensis também é conhecida como substituta da pimenta-do-reino e, sendo assim, pode ser também utilizada na gastronomia.
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Na medicina popular são utilizadas infusões da casca para tratar diversos males, como úlcera, dores em geral, problemas respiratórios e malária. Além disso, foi encontrada também uma atividade antifúngica em compostos (sesquiterpenos) nas cascas da Drimys brasiliensis.
Uma informação interessante presente, de acordo com Carolina, é que a casca de espécies do gênero Drimys é conhecida também como “casca de Winter”.
Isso porque essa casca foi descoberta casualmente pelo capitão Winter, um dos tenentes do navegador britânico Sir Francis Drake, que foi obrigado a se refugiar no Estreito de Magalhães para tratar sua tripulação que sofria de escorbuto.
Fonte: G1