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sábado, 20 abril 2024

Com venda on-line, fama dos queijos artesanais de Minas viaja pela internet



foto: Com recurso amplo da divulgação e dos contatos pela internet, escoamento foi retomado pelas queijarias, embora turismo fraco afete o negócio (foto: Aprocan/Divulgação)


por: Luiz Ribeiro / Estado de Minas

Com a renovação da estratégia de comercialização da iguaria típica do estado, as redes sociais ajudam os produtores a vencer desafios da crise sanitária

queijo artesanal de leite cru se tornou uma espécie de marca registrada de Minas Gerais, produzido em  pelo menos oito regiões certificadas pela fabricação da iguaria, com raízes históricas no estado.

Logo no início da pandemia do coronavírus, em março e abril de 2020, o segmento foi impactado pelas restrições às atividades econômicas, diante da necessidade do isolamento social como uma das medidas de combate à doença` respiratória. As queijarias sentiram o baque, investiram em novas formas de comercialização e deram a volta por cima.

Além de garantir a manutenção da qualidade do produto artesanal, os empreendedores do setor venceram o distanciamento social. Enfrentando uma realidade nova para atividade centenária em diversos municípios, os produtores intensificaram a divulgação do produto e criaram estrutura para venda a distância,  com o uso da internet e  das redes sociais – Instagram, Facebook e  WhatsApp.

Nesta reportagem, a quarta matéria da série “Reinventando nossas tradições”, que o Estado de Minas publica desde domingo, mestres dessa atividade contam como renovaram o negócio. Com tamanha tradição, o queijo artesanal mineiro ganhou uma data especial, 16 de maio.

O modo artesanal de fazer queijo de Minas nas regiões do Serro, Serra da Canastra, do Salitre e Alto Paranaíba foi lançado na categoria Saberes, pelo Conselho Consultivo do Instituto de Patrimônio Histório e Artísitico Nacional (Iphan).
Um dos tipos mais famosos, o Queijo Minas Artesanal (QMA) é reconhecido ainda como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Iphan. Há estimativas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) de que a produção de queijos artesanais atinja 85 mil toneladas por ano, representando fonte de renda para cerca de 9 mil famílias

Outras seis regiões já foram identificadas pela fabricação artesanal, Cabacinha, Serra Geral, Vale do Suaçuí, Alagoa, Mantiqueira de Minas e Requeijão Moreno.
Diante dos desafios do “novo normal” da pandemia, a reinvenção dos produtores, com o uso do sistema digital e o fortalecimento do marketing  foi o caminho encontrado pelos produtores do  famoso queijo Canastra, da região da serra homônima no Centro-Oeste do estado.

“Os produtores começaram a buscar novos mercados, investindo em marketing, estando mais presentes nas redes sociais e se relacionando diretamente com os consumidores finais”, afirma o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), Higor Freitas. A entidade está instalada no município de São Roque de Minas, que também é reconhecido por ser o ponto de nascente do Rio São Francisco.
Na região da Serra da Canastra, cerca de 800 produtores de sete municípios ofertam cerca de 6,84 mil toneladas de queijo por ano. A produção é vendida no próprio território mineiro e em outros estados, principalmente, para o Rio de Janeiro e São Paulo. Passados um ano e quatro meses desde o início da crise sanitária, o diretor-executivo das Aprocan afirma que os empreendedores enfrentam até “dificuldades para a produzir a quantidade demandada” pelos clientes.

Rastreabilidade

Freitas salienta que, atualmente, uma “pedra no sapato” dos queijeiros é  o custo da produção,  incompatível   com o  valor da venda. “O custo do queijo está muito alto e o produtor não está conseguindo reajustar o preço de venda como deveria”, assinala.

Ele lembra que, durante a pandemia, a  atividade tornou-se onerosa com a elevação do preço da alimentação usada para criação do gado leiteiro, ponto-chave do negócio da famosa iguaria, tocado no sistema de agricultura familiar nas propriedades rurais da região da Canastra. São necessários em torno de 10 a 12 litros para produzir cada quilo de queijo.
No enfrentamento da pandemia, os produtores das diversas regiões “queijeiras” de Minas contam com um fator que possibilita a expansão do negócio: o  Selo Arte, certificação conferida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em julho de 2019, que permite a  venda dos produtos de origem animal para outros estados, desde que submetidos à inspeção sanitária.
No caso do arranjo produtivo do  Centro-Oeste do estado, existe um outro indicativo de qualidade: a  utilização de etiquetas de caseína, um selo da indicação da  “Procedência Canastra”. Dessa forma possibilita também a “rastreabilidade” do produto.
Um dos mais experientes   produtores de  queijo  da Serra da   Canastra, Sebastião Ribeiro Lopes, de 72 anos,  da Fazenda Santa Terezinha,  no município de Delfinópolis, se dedica à atividade há 51 anos. Ele produz a iguaria, cuja marca leva o apelido dele:  “Tião do  Lunga”.  A queijaria suspendeu as visitas dos turistas, reforçou a divulgação pelas redes sociais e o atendimento à clientela por encomendas feitas pelo WhatsApp. Nesse “comércio moderno”, conta com a ajuda dos três filhos.

Assim, manteve a dinâmica do negócio. “Não tive diminuição de vendas na pandemia.  As vendas  por meio de encomendas continuam com a mesma demanda”, relata Tião do Lunga. A produção dele gira em  torno de 200 peças de queijo por mês.

Lucilha Faria, também produtora do queijo  Canastra, em São Roque de Minas (Centro-Oeste do estado), relata que,  desde que começaram o distanciamento social e as restrições econômicas contra o avanço da coronavírus, enfrentou desafios como alta dos custos dos insumos.

Porém, ela não alterou o seu ritmo de produção e de vendas. “Tenho investido na divulgação nas redes sociais, tentando não repassar a alta aos clientes, e fazendo novos mercados”, diz. Lucilha  produz em torno de 700  peças do queijo Canastra por mês. Além de atender ao mercado mineiro, vende o produto para clientes do Rio de Janeiro, Goiás, Brasília (DF)   e  São Paulo.

Aprendizado, aos 300 anos

Os produtores do queijo do Serro, no Vale do Jequitinhonha, têm registros da atividade de 300 anos. Eles se valeram das redes sociais para romper as barreiras do distanciamento social e atender a clientela em diferentes estados, até em pontos mais distantes, como Mato Grosso e Rondônia.
Assim como a produção da Serra da Canastra, a região do Serro detém o registro de Indicação Geográfica (IG) concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). De acordo com a Associação dos Produtores Artesanais do Queijo do Serro (Apaqs), a região engloba  756 produtores (dos quais 530 pequenos agricultores) de 10 municípios. Eles produzem cerca de 8  mil toneladas da iguaria por ano.

O presidente da Apaqs, José Ricardo Ozólio, afirma que desafiados pela pandemia, aos poucos, os produtores conseguiram escoar a produção. Ele relata que  aumento dos custos de produção foi outro desafio enfrentado  no setor.

“O que realmente dificultou foram os preços dos insumos, o que levou os produtores a buscar novas soluções, principalmente, para alimentação do gado com pesquisas de forrageiras mais produtivas, estudos e preparação de plantio de soja para manter a quantidade de proteína fornecida aos animais”, revela Ozólio.
Por outro lado,  Ozólio  salienta que a partir de parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os produtores do queijo do Serro participaram de cursos de capacitação para se adequarem ao “novo normal” e manterem o negócio. Uma das estratégias adotadas foi o uso do chamado “ balcão virtual”, por meio das redes sociais.
“As ferramentas  mais usadas são o Instagram e o WhatsApp. Os resultados estão bem positivos”, comemora o presidente da Apaqs. Um dos produtores do queijo do Serro que recorreu às  novas estratégias em   meio a pandemia é Túlio Madureira. Ele afirma que promoveu lives com especialistas do setor para reforçar a divulgação e a venda do seu produto pelas redes sociais.

Madureira informa que diminuiu a produção, mas  não abre mão da qualidade do seu produto, que lhe assegurou premiação recebida na França, em 2019.

“Sempre preso pela excelência e manutenção da receita original do nosso modo de produzir registrado como patrimônio imaterial, leite cru, coalho, pingo e sal. Vendemos em lojas especializadas e pequenos distribuidores que trabalham com públicos exclusivos e com vendas on-line”, destaca.

Turismo 

A diminuição de visitas a pontos turísticos de Minas, devido às restrições da circulação de pessoas para impedir a propagação do coronavirus também afetou o mercado do queijo artesanal, produto muito usado na gastronomia, lembra Ricardo Boscaro Castro, analista de Agronegócios do Sebrae Minas.

“A redução do fluxo de turistas impactou, e ainda impacta, fortemente algumas regiões produtoras de queijo. Ao longo do ano passado e nos primeiros meses deste ano, a produção e demanda foram se ajustando. Tanto lojistas quanto produtores foram se adequando à nova realidade. O mercado on-line de venda direta ao consumidor se fortaleceu”, avalia Boscaro. (LR)

Delivery surpreendente

A  melhoria do sistema de alimentação do gado leiteiro e  o aperfeiçoamento do relacionamento com a clientela estão entre as medidas implantadas no enfrentamento da pandemia por João Dutra, prdutor do queijo  Minas artesanal Catauá, no município de Coronel Xavier Chaves, na encosta da Serra da Mantiqueira, na região do Campo das Vertentes.

Todo o processo de fabricação ocorre na fazenda onde a família de Dutra iniciou a atividade há cerca de 200 anos. A propriedade mantém oferta mensal de 900 quilos de queijo.

“Todos os nossos colaboradores moram na fazenda, o que permitiu a continuidade da produção, já que não havia o risco de contaminação (do coronavírus)  por essa questão. Continuamos produzindo ininterruptamente”, afirma o produtor da Serra da Mantiqueira. João Dutra destaca que também investe na busca de parcerias  alternativas para continuar fornecendo os produtos, apesar da dificuldade de logística.
O reforço das vendas pelo  delivery foi uma iniciativa adotada pela  empreendedora Rubnei Rodrigues da Silva para dar continuidade à produção do queijo artesanal durante a pandemia  na zona rural de Porteirinha, no Norte de  Minas.  Ela conta que recorreu ao sistema após ser atendida pelo Sebrae  Minas, que também auxiliou os produtores de queijo na região na obtenção do Selo Arte.
“A gente começou a trabalhar com o delivery e o retorno foi surpreendente, muito bom”, afirma Rubnei. Ela iniciou a atividade há quatro anos, com o marido Regino Rodrigues da Silva, cuja família sempre se dedicou à produção do requeijão, outro produto artesanal da região. As vendas on-line permitiram fidelizar a clientela.

Em outro ponto do Norte de Minas, no município de São Francisco, cortado pelo rio homônimo,  o agricultor Clodoaldo Mendes da Silva comemora os bons resultados na produção do queijo muçarela, feito em sua propriedade.

Ele também recorreu ao delivery e investe para melhorar o negócio.  “No inicio, essa pandemia foi um caos para todo mudo. A gente tinha medo de não poder nem trabalhar mais. Mas, o tempo foi passando e as coisas foram andando. A parte de alimentação acabou não sendo muito afetada, com as vendas sendo feitas pelo delivery. Eu não tive problemas para  vender”, afirma  o agricultor.

Fonte: Estado de Minas

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